26 novembro, 2007



Máquina de escrever

Paro tudo. É pedido da chefia. Tenho de mudar meus planos daquele dia para responder ao pedido de escrever – “urgentemente!” – uma biografia de Maria Antônia da Silva.
Sou metódico, não me adapto fácil a mudanças bruscas. Hesito um pouco em pegar o bloco de notas e a caneta. Mas são ordens.
Desço um andar e logo estou na sala de assistência social. Trabalho no mesmo prédio de Maria Antonia e sequer tenho tempo para notá-la ao longo dos dias. Não hoje. Tenho de escrevê-la.
O papo começa e logo chega o primeiro: - Ele se chama Celso. É lá do Cambuci. Está precisando de ajuda! Maria pega o papel com os dados e anota em seu caderninho.
Prosseguimos nas lembranças. Ela se recorda da infância em Pains – MG. Sente saudades da chegada no Rio e do início da vida profissional em São Paulo.
Novamente, interrupção. Agora é Paulinho quem entra na conversa. – É meu filhinho de 40 anos. Paulinho teve problemas na infância e hoje tem dificuldades de se comunicar. Maria pára nossa conversa para atender Paulinho. Nesse momento já olho para o relógio. Preciso entregar esse texto, penso.
Sigo pelas memórias de Maria Antonia e chego até os dias de hoje. Termino a entrevista, escrevo o texto e entrego.
Penso que essa coisa de escrever pode me tornar um cara mecânico: escuto e escrevo, escuto e escrevo, escuto e escrevo...
Foto: Maria Antônia na sala de Assistência Social.