
Vinte anos sem Drummond
Quando as recebia, me impressionava a efígie do velho de óculos. O semblante era grave num fundo azul com pequenos escritos. É a primeira lembrança que tenho de Carlos Drummond de Andrade.
A homenagem do governo brasileiro ao poeta circulou durante três anos, pois a inflação desvalorizou aquele papel moeda. Em casa tínhamos um vaso com notas antigas, entre elas estava o poeta.
Descobri o valor de Drummond no colégio. Matéria de composição para ele podia ser a morte do leiteiro ou o nascimento da flor no asfalto, um verdadeiro exercício da valorização da vida.
Síntese da poesia drummondiana é o prólogo “Amar se aprende amando, sem omitir o real cotidiano também matéria de poesia”. A singeleza do pensamento aponta para o compromisso de tornar o amor uma ação contínua no tempo que não pode ser desprezado. E o tempo pode ser facilmente perdido no cotidiano.
Drummond se foi há vinte anos, e as cédulas já não circulam desde 1992, o tempo as levou. Mas o poeta de Itabira escreveu uma grande lição em mim. Espero não esquecê-la com o tempo.
2 Comments:
"Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos."
Ele disse isso. E eu concordo tanto com ele. E concordo tanto com você... enfim, faço dessas suas palavras, as minhas. Esse campeão é imbatível!
Beijos, Dani.
Dani, ele é mesmo o mestre.
como são as coisas, vc é tão mais novo que eu.
eu nem me lembrava dessa nota!!! quantas vezes a usei...
a mesma lição talvez ele tenha deixado pra mim: o cotidiano, as coisa presentes, a vida presente: tudo isso é poesia....
parabéns pelo blog!!é muito bom.
Postar um comentário
<< Home