17 agosto, 2007



Vinte anos sem Drummond

As cédulas de Cinqüenta Cruzados Novos não iam direto para o bolso da calça.

Quando as recebia, me impressionava a efígie do velho de óculos. O semblante era grave num fundo azul com pequenos escritos. É a primeira lembrança que tenho de Carlos Drummond de Andrade.

A homenagem do governo brasileiro ao poeta circulou durante três anos, pois a inflação desvalorizou aquele papel moeda. Em casa tínhamos um vaso com notas antigas, entre elas estava o poeta.

Descobri o valor de Drummond no colégio. Matéria de composição para ele podia ser a morte do leiteiro ou o nascimento da flor no asfalto, um verdadeiro exercício da valorização da vida.

Síntese da poesia drummondiana é o prólogo “Amar se aprende amando, sem omitir o real cotidiano também matéria de poesia”. A singeleza do pensamento aponta para o compromisso de tornar o amor uma ação contínua no tempo que não pode ser desprezado. E o tempo pode ser facilmente perdido no cotidiano.

Drummond se foi há vinte anos, e as cédulas já não circulam desde 1992, o tempo as levou. Mas o poeta de Itabira escreveu uma grande lição em mim. Espero não esquecê-la com o tempo.

2 Comments:

Blogger Fernanda said...

"Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos."

Ele disse isso. E eu concordo tanto com ele. E concordo tanto com você... enfim, faço dessas suas palavras, as minhas. Esse campeão é imbatível!

Beijos, Dani.

segunda-feira, setembro 03, 2007 12:04:00 PM  
Blogger debora camargo said...

Dani, ele é mesmo o mestre.

como são as coisas, vc é tão mais novo que eu.

eu nem me lembrava dessa nota!!! quantas vezes a usei...

a mesma lição talvez ele tenha deixado pra mim: o cotidiano, as coisa presentes, a vida presente: tudo isso é poesia....

parabéns pelo blog!!é muito bom.

quinta-feira, dezembro 13, 2007 8:28:00 AM  

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