Estação-integração
A bengala de Antônio deixa o vagão do trem e risca o chão da plataforma em movimentos semicirculares contínuos. Ele decide esperar enquanto uma multidão se afunila na escada-rolante aguardando a próxima série de degraus vazios.
Enquanto isso, Antônio apura os sentidos. Ele sente respirações ofegantes, cremes femininos e nicotina em excesso. Escondido atrás dos óculosescuros, escuta reclamações sobre o trabalho, o monólogo ao celular e, por fim, um breve silêncio. É sinal de que a plataforma está vazia e ele já pode caminhar até a escada-rolante.
Já no segundo andar da estação-integração, Antônio percebe que terá de percorrer sozinho os duzentos metros até a plataforma seguinte, onde pretende embarcar até seu destino final.
A dificuldade do percurso não assusta Antônio, afinal há dois anos ele pisa o mesmo trajeto. Antônio recolhe agora a bengala junto ao corpo e passa pela catraca da segunda plataforma. Marcando mais alguns passos, ele caminha excedendo um pouco o limite da faixa amarela de segurança.
Antônio segue riscando o chão até o começo da plataforma, quando sua bengala esbarra em algo. Antônio pára e percebe que a área reservada para o embarque de portadores de deficiência está ocupada por uma pessoa:
- "Desculpa", fala Antônio de olhos baixos.
- "Sem problemas", responde uma voz feminina.
Ambos estão lado a lado à espera do embarque. O barulho metálico das rodas de ferro no trilho anuncia a chegada da composição. A aproximação do primeiro vagão traz um vento que arranca da voz feminina um cheiro doce de perfume. Antônio sente aquele aroma e mecanicamente tenta espiar de canto de olho a pessoa ao lado, mas a vista é embaçada, e logo Antônio abaixa os olhos.
O sinal de abertura das portas é acionado e Antônio sente um fino antebraço correr-lhe a cintura. Antônio recolhe a bengala junto ao corpo. Ambos dão os braços e entram no vagão. Lá dentro, os dois se assentam em lugar para uso especial e iniciam a viagem.
A bengala de Antônio deixa o vagão do trem e risca o chão da plataforma em movimentos semicirculares contínuos. Ele decide esperar enquanto uma multidão se afunila na escada-rolante aguardando a próxima série de degraus vazios.
Enquanto isso, Antônio apura os sentidos. Ele sente respirações ofegantes, cremes femininos e nicotina em excesso. Escondido atrás dos óculosescuros, escuta reclamações sobre o trabalho, o monólogo ao celular e, por fim, um breve silêncio. É sinal de que a plataforma está vazia e ele já pode caminhar até a escada-rolante.
Já no segundo andar da estação-integração, Antônio percebe que terá de percorrer sozinho os duzentos metros até a plataforma seguinte, onde pretende embarcar até seu destino final.
A dificuldade do percurso não assusta Antônio, afinal há dois anos ele pisa o mesmo trajeto. Antônio recolhe agora a bengala junto ao corpo e passa pela catraca da segunda plataforma. Marcando mais alguns passos, ele caminha excedendo um pouco o limite da faixa amarela de segurança.
Antônio segue riscando o chão até o começo da plataforma, quando sua bengala esbarra em algo. Antônio pára e percebe que a área reservada para o embarque de portadores de deficiência está ocupada por uma pessoa:
- "Desculpa", fala Antônio de olhos baixos.
- "Sem problemas", responde uma voz feminina.
Ambos estão lado a lado à espera do embarque. O barulho metálico das rodas de ferro no trilho anuncia a chegada da composição. A aproximação do primeiro vagão traz um vento que arranca da voz feminina um cheiro doce de perfume. Antônio sente aquele aroma e mecanicamente tenta espiar de canto de olho a pessoa ao lado, mas a vista é embaçada, e logo Antônio abaixa os olhos.
O sinal de abertura das portas é acionado e Antônio sente um fino antebraço correr-lhe a cintura. Antônio recolhe a bengala junto ao corpo. Ambos dão os braços e entram no vagão. Lá dentro, os dois se assentam em lugar para uso especial e iniciam a viagem.
1 Comments:
Este texto foi uma bela lição que, mais do que observar, o jornalista precisa sentir, viver os fatos.
Sou a favor da imersão - há quem diga que o repórter não tem que se envolver, tem que ser imparcial (uma utopia). Eu defendo que o jornalista tem que sentir o tema. Acompanhar este trajeto, sem ver, seria uma boa experiência.
Hoje, entrevistei o jornalista Percival de Souza. ele me dizia que, para escrever um trecho de seu último livro, o Sindicato do Crime, ele passou dois fins de semana na casa de um juíz jurado de morte, que vive sob escolta 24 horas por dia. Nas palavras do Percival: "Não iria conseguir escrever apenas com o que ele me contou. Eu precisava sentir toda a privação que aquele juíz estava vivendo".
Dá trabalho, mas quem disse que a gente não gosta de trabalho.
Ou melhor, como disse alguém que não me recordo. "é cansativo, mas é melhor do que trabalhar".
abração,
Marcelo Santos
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