Lampejo
Novamente, aquele sonho.
Joza abre os olhos e eleva as mãos até o rosto. Às 3h20 da madrugada ele desiste do sono, pois sabe que logo será tomado por uma angústia dominante. Ao perceber os primeiros sintomas da crise, percorre com a mão a cômoda ao lado em busca da lamparina, presente da mãe na última visita. Em movimento descontrolado, considera que o objeto não está lá. No lugar, a superfície lisa da madeira fria que gela a palma da mão de Joza.
A noite no dormitório do Centro de Reclusão Psíquica já revelara a Joza momentos de medo e alucinação, no entanto aquela era a primeira vez que ele sentia o abandono. A ausência do controle sobre a luz acentua o desespero em Joza. A respiração ofegante o obriga a sentar na cama para buscar o ar escasso aos pulmões. A inquietação ocupa-lhe todos os sentidos.
Os poucos passos de Joza até o final do quarto chamam a atenção da enfermeira Custódia que, deixando cair o livro que lia, agarra a cintura daquele homem de corpo sadio e mente ferida.
– “Senhor Joza?”. Custódia sustenta Joza, ambos se equilibram ao longo do corredor até a enfermaria. Aos poucos, mais enfermeiros chegam para ajudar. Além da respiração ofegante e dos movimentos agitados, o primeiro diagnóstico do rápido exame feito na enfermaria não indica nenhuma condição crítica.
– “Acalme-se senhor Joza, o senhor está nervoso!”, afirma uma voz de enfermeiro, no quarto branco. Mesmo naquele ambiente iluminado, Joza sente a escuridão tomar-lhe o interior, roubando a vida. Daí para frente, são necessários quatro enfermeiros para segurar o corpo descontrolado sobre a maca. A equipe descreve a situação para o médico plantonista que orienta uma dose extra de calmante ao doente.
Enquanto Custódia prepara a medicação, Joza descobre-se sem os sentidos, cercado pela estrutura nula do corpo; mas capaz de discernir entre o estado vivo e morto das coisas. A equipe médica estranha o silêncio repentino do doente e decide apenas acompanhar o desenvolvimento do sono de Joza naquela noite.
Percebendo-se de volta ao quarto, Joza é levado novamente aquele sonho, sendo que dessa vez o mundo onírico é compreendido a partir da realidade.
Incapaz de movimentar as extensões do corpo, Joza transcende o espaço e é levado ao encontro com Deus que lhe toca a cabeça com uma de suas mãos. Com a outra mão, Deus entrega-lhe a lamparina. Ao receber o objeto, os sentidos de Joza são restabelecidos e ele acorda sobre a cama do dormitório no Cento de Reclusão Psíquica.
Na manhã seguinte, Joza resplandece uma fisionomia nunca antes vista por enfermeiros, médicos e doentes do Centro de Reclusão Psíquica. Confiança no desenvolvimento das tarefas diárias e até um senso de humor inesperado apresentam um novo Joza a todos.
– “Qual a é a novidade? Mudou de remédio?”, questiona um outro doente.
– “Não, deixei de tomá-los”, responde Joza, terminando a frase com um sorriso.
– “Ele deixou de tomá-los! Ele deixou de tomá-los!” anuncia o doente a todos.
Surpresos, médicos, residentes e enfermeiros se aproximam de Joza para abraçá-lo, e o coro de vestes brancas confirma:
– “Você conseguiu!”.
O resgate do equilíbrio psíquico sem a influência da droga garante a Joza e liberação médica e a possibilidade de iniciar uma nova vida. À porta do Centro de Reclusão Psíquica, Joza se despede de cada doente com um abraço e a repetição da frase:
– “Deixei de tomá-los”.
Novamente, aquele sonho.
Joza abre os olhos e eleva as mãos até o rosto. Às 3h20 da madrugada ele desiste do sono, pois sabe que logo será tomado por uma angústia dominante. Ao perceber os primeiros sintomas da crise, percorre com a mão a cômoda ao lado em busca da lamparina, presente da mãe na última visita. Em movimento descontrolado, considera que o objeto não está lá. No lugar, a superfície lisa da madeira fria que gela a palma da mão de Joza.
A noite no dormitório do Centro de Reclusão Psíquica já revelara a Joza momentos de medo e alucinação, no entanto aquela era a primeira vez que ele sentia o abandono. A ausência do controle sobre a luz acentua o desespero em Joza. A respiração ofegante o obriga a sentar na cama para buscar o ar escasso aos pulmões. A inquietação ocupa-lhe todos os sentidos.
Os poucos passos de Joza até o final do quarto chamam a atenção da enfermeira Custódia que, deixando cair o livro que lia, agarra a cintura daquele homem de corpo sadio e mente ferida.
– “Senhor Joza?”. Custódia sustenta Joza, ambos se equilibram ao longo do corredor até a enfermaria. Aos poucos, mais enfermeiros chegam para ajudar. Além da respiração ofegante e dos movimentos agitados, o primeiro diagnóstico do rápido exame feito na enfermaria não indica nenhuma condição crítica.
– “Acalme-se senhor Joza, o senhor está nervoso!”, afirma uma voz de enfermeiro, no quarto branco. Mesmo naquele ambiente iluminado, Joza sente a escuridão tomar-lhe o interior, roubando a vida. Daí para frente, são necessários quatro enfermeiros para segurar o corpo descontrolado sobre a maca. A equipe descreve a situação para o médico plantonista que orienta uma dose extra de calmante ao doente.
Enquanto Custódia prepara a medicação, Joza descobre-se sem os sentidos, cercado pela estrutura nula do corpo; mas capaz de discernir entre o estado vivo e morto das coisas. A equipe médica estranha o silêncio repentino do doente e decide apenas acompanhar o desenvolvimento do sono de Joza naquela noite.
Percebendo-se de volta ao quarto, Joza é levado novamente aquele sonho, sendo que dessa vez o mundo onírico é compreendido a partir da realidade.
Incapaz de movimentar as extensões do corpo, Joza transcende o espaço e é levado ao encontro com Deus que lhe toca a cabeça com uma de suas mãos. Com a outra mão, Deus entrega-lhe a lamparina. Ao receber o objeto, os sentidos de Joza são restabelecidos e ele acorda sobre a cama do dormitório no Cento de Reclusão Psíquica.
Na manhã seguinte, Joza resplandece uma fisionomia nunca antes vista por enfermeiros, médicos e doentes do Centro de Reclusão Psíquica. Confiança no desenvolvimento das tarefas diárias e até um senso de humor inesperado apresentam um novo Joza a todos.
– “Qual a é a novidade? Mudou de remédio?”, questiona um outro doente.
– “Não, deixei de tomá-los”, responde Joza, terminando a frase com um sorriso.
– “Ele deixou de tomá-los! Ele deixou de tomá-los!” anuncia o doente a todos.
Surpresos, médicos, residentes e enfermeiros se aproximam de Joza para abraçá-lo, e o coro de vestes brancas confirma:
– “Você conseguiu!”.
O resgate do equilíbrio psíquico sem a influência da droga garante a Joza e liberação médica e a possibilidade de iniciar uma nova vida. À porta do Centro de Reclusão Psíquica, Joza se despede de cada doente com um abraço e a repetição da frase:
– “Deixei de tomá-los”.
1 Comments:
Qual dos mundos é o "normal"? O de Joza ou dos homens de branco?
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